segunda-feira, maio 23, 2011

Aprendizagem e seus Valores


Aprendizagem e seus valores

Quando falo de aprendizagem, comento de um ser que pensa e que reage diante de diferentes situações vivenciadas de forma real, de forma intra e interpessoal, de um sujeito que carrega uma carga muitas vezes do não saber.
 Comento de uma vivência onde o indivíduo pode seguir ou não sua trajetória acadêmica, caminhar este que requer vasto conhecimento, não só das aquisições conquistadas e elaboradas no seu dia-a-dia, mas também conhecimento social, familiar e emocional.
O conhecimento familiar está atrelado aos valores que influenciam no seu cotidiano, no  julgamento do certo e errado, no  amadurecimento e nas suas decisões,  na busca enquanto caminhante de sua construção.
Não podemos  esquecer que fazemos parte da sociedade pós-moderna, que exige o aumento do conhecimento e especialidade. Novas aprendizagens estão incorporadas cuja aquisição nem sempre pode ser garantida simplesmente pela inserção do individuo na instituição de ensino, uma vez que a escola é apenas um dos diferentes contextos educativos.
A participação do sujeito dentro do contexto escolar é decisiva,  para que  possa adquirir e desenvolver determinadas capacidades consideradas essenciais para  o grupo social ao qual pertence.
É neste conjunto de busca que as  alterações pedagógicas e as dificuldades de aprendizagem,  surgem de forma inquietante dentro da instituição escolar e familiar amarrando todo o núcleo. O aluno por não compreender os fatos tenta buscar diferentes caminhos.
Trilha onde pauta a autorização desta família diante do saber deste sujeito. A parceria da família é de suma importância na vida escolar destes indivíduos. Onde a apreensão ocorre no tempo de cada ser, mas este deve ser estimulado e valorizado e não contemplado diante de suas falhas e faltas.
Tenho vivido experiências onde o cuidador não autoriza o seu ente querido a buscar sua aprendizagem, não permite que este tenha o desejo  de ousar, de seguir adiante para amadurecer e para refletir sobre a sua caminhada, tornando-se independente.
Quando o fracasso escolar vem à tona, a negação do não saber desta família explode como um vulcão. Saber muitas vezes velado, revelado dentro do núcleo que outrora estava camuflado ou adormecido.
Quando reveladas as inabilidades dos filhos,  os pais tendem a não aceitar, pois é um não saber que se torna caro. Medo deste filho não caminhar com sucesso, em ser discriminado pelos professores, o coitadinho do sistema escolar e do seu ciclo familiar.
Sinto que estes sujeitos estão limitados aos desejos dos pais, tornando-se difícil sair da redoma que lhe proporcionaram. Muitas vezes este lugar torna-se confortável, pois só assim consegue prover atenção dos seus pais.
Portanto, não ensinamos nossos filhos a buscar, a conquistar  seus desejos, assim formamos adultos sem sonhos, limitados, irresponsáveis esperando sempre que o “outro” lhe dê alguma coisa em troca.
E neste trajeto, sonhos são aniquilados por pura proteção, ou ignorância  por não permitir que o outro se frustre tanto quanto ele (pai/ mãe)  frustrou-se perante a busca  da sua aprendizagem em sua história escolar e familiar.
Lidar com as frustrações é abrir as comportas dos seus medos e anseios, do seu sofrimento.
 As frustrações devem ser vivenciadas, lidas e  analisadas pelo outro de maneira positiva, pois o mesmo necessita adquirir experiência de vida para ter noção do certo e do errado. Diante do amadurecimento o sujeito dá inicio a uma nova roupagem em suas elaborações, reorganiza  seu processo e avança cada vez mais em suas  lutas pelos seus ideais.
A aprendizagem é um processo que se efetua a partir de determinadas estruturas cognitivo-afetivas, as quais se modificam em contato com o meio externo provocando transformações, num constante intercâmbio entre quem aprende e o meio  no qual está inserido. A base do desenvolvimento da aprendizagem está tanto na relação que se estabelece com o outro, como nas capacidades e  nas motivações para aprender.
Segundo a Dra. Cristina M. Barreto Cupertino,  devemos “Entender  o sujeito não mais de um modelo ideal de ser humano, mas como um sujeito contextualizado e conseqüentemente diferente dos demais, pois estão inseridas no sistema familiar. E o acolhimento é necessário.” 
Reforça-se que  o crescimento do individuo depende  das necessidades constantes dos processos de maturação que são investidas pela família, escola e pelo grupo social que está inserido.
            Para que uma criança aprenda é necessário que ela tenha o desejo de aprender. E que, sobretudo, o desejo dos pais a autorizem. Como confirma Mannonni (1981), “as crianças andam não só porque tem pernas, mas porque seus pais assim o permitem”.
Toda criança precisa ter consentimento dos pais, ainda que inconsciente, para crescer. Segundo Bion (1994), o grupo familiar exerce um controle mútuo para impedir que qualquer membro faça contribuições diferentes daquelas ditadas pelas regras da família.
Augusto Cury relata em seu livro O vendedor de Sonhos -  “uma existência sem sonhos é uma semente sem solo, uma planta sem nutrientes”.
Será que eles saberão solucionar os conflitos da sua própria vida, ou estarão amarrados a uma dinâmica familiar utópica, cheias do desejo não revelado.
Acredito que devemos formar cidadãos/videira, pois qualquer um pode alcançar seus frutos e caminhar livremente com o seu saber.

Cuiabá, 23 de maio de 2011.

Maria Masarela Marques dos Passos
Pedagoga – Psicopedagoga – Formação em Dislexia e Psicanálise

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
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MORGADO, Maria Aparecida – Da Sedução na Relação Pedagógica: professor aluno no embate com afetos inconscientes, 2ª Ed. São Paulo, Summus, 2002.
VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica Epistemológica Convergente, Porto Alegre, Artes Médicas, 1987.
SANTOS, Maria Thereza Mazorra dos  e Navas, Ana Luiza G. P.– Distúrbios de Leitura e Escrita – Teoria e Prática, Barueri – SP - Manole, 2004.
KUPFER, Maria Cristina – Freud e a Educação: o mestre do impossível, São Paulo, Scipione, 1989.
Cury, Augusto – O vendedor de sonhos e a revolução dos anônimos – São Paulo: Editora Academia de Inteligência, 2009.
MORGADO, Maria Aparecida – Da Sedução na Relação Pedagógica: professor aluno no embate com afetos inconscientes, 2ª Ed. São Paulo, Summus, 2002.
ELIA, Luciano – O conceito do Sujeito, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, Ed. 2004.
POLITY, Elizabeth – Dificuldade de Aprendizagem e Família: Construindo Novas Narrativas, Ed. Vetor, 1ª Edição, 2001.
MIRANDA, Margarete Parreira – Adolescência na escola – Soltar a corda e segurar a ponta, Formato Editorial Ltda., 2002.